Tarte de Pêssego e Mirtilo



Das primeiras memórias de infância. Quase todas me remetem aos meus avós, teria eu uns 3 ou 4 anos. São as primeiras memórias, a maioria delas visuais. Lembro-me de passar muito tempo na quinta onde eles trabalharam, uma quinta enorme cheia de vinhas e cavalos, perto de Santarém. Ainda me lembro do cheiro característico dos estábulos dos cavalos. 

Passava lá semanas, na companhia deles. Lembro-me das casas caiadas naquela rua, dos vizinhos amigos. De uma rua enorme que vinha ali dar. Onde se podia brincar lá fora e onde o tempo passava devagar. Onde havia tempo para a sesta e para conversas. Não me lembro das conversas, mas lembro-me de um vizinho que me tentava sempre assustar com os gafanhotos, na brincadeira.

Lembro-me da horta comunitária, de todos. Onde havia muito verde. Lembro-me da primeira vez que vi beringelas e para sempre as recordo associadas aquele lugar. Lembro-me de no natal haver coscurões. Lembro-me de uma mesa lá fora, de madeira, onde as uvas secavam até ficarem passas. 
Uma mesa onde havia sempre fruta da época, onde se comia ao sabor das estações e do que crescia na horta, ao seu tempo.





Mais tarde, os meus avós regressaram de lá, para a sua terra natal. Onde hoje eu moro. Começaram a plantar o terreno enquanto eu crescia com ele. E nele também cresciam as memórias.
Plantaram a horta, que era tão maior e tão mais verde quando o meu avô ainda cá estava. Plantaram as árvores de fruto, que se espalham no pomar. Temos limões, laranjas, tangerinas, clementinas, ameixas, romãs, nêsperas e figos.

Lembro-me também de plantar um caroço de pêssego e dele nascer um pessegueiro. Duma coisa pequenina fez-se algo maior. Lembro-me dos pêssegos serem claros, amarelados e carecas. Esse pessegueiro secou, mas o perfume desses pêssegos é mais uma memória que não esqueço.
Nesta altura do ano começam eles a chegar, os pêssegos e as nectarinas. Adoro pegar neles e sentir o seu aroma, um pequeno prazer do verão.

As receitas com pêssegos são irresistíveis, nesta altura do ano. Adoro comer ao natural, assados, em saladas, em gelados e em tartes.
Esta tarte vem de um livro lindo, o "Summer Berries & Autumn Fruits", um livro inspirador em receitas com fruta, sazonais. Receitas para celebrar a fruta.
Enquanto saboreava uma fatia ainda morna, a minha memória percorria todas aquelas lembranças de infância, e da fruta que cresce devagar e no seu tempo, com o melhor sabor. Do perfume de um pêssego, doce. Dos dias de verão no alpendre e das cores da fruta que pintam todas essas recordações.





Tarte de Pêssego e Mirtilo
(adaptada do livro Summer Berries & Autumn Fruits, de Annie Rigg)

massa:
300 gr de farinha de trigo
pitada de sal 
175 gr de manteiga fria em cubos
40 gr de açúcar
3 colheres (sopa) de água
2 colheres (chá) de sumo de limão
leite vegetal q.b. para pincelar
açúcar demerara q.b. para salpicar

recheio:
4 pêssegos (nectarinas) fatiados
200 gr de mirtilos 
2 colheres (sopa) de açúcar mascavado
raspa de 1/2 limão
1 colher (sopa) de farinha maisena
20 gr de manteiga



Preparação

Começar por preparar a base. Colocar a farinha, o sal, o açúcar e a manteiga em cubinhos numa taça, e começar a esfregar com os dedos, até a manteiga incorporar na farinha. À parte misturar a água com o sumo de limão e adicionar metade à massa, incorporando sem amassar muito, até a massa ficar unida. Se necessário adicionar a restante água à massa. Formar uma bola, cobrir com película aderente e colocar no frio por 2 horas.
Cortar um terço de massa e reservar. Com a parte maior da massa, esticar com o rolo numa superfície enfarinhada, até obter um disco de 28-30 cm. Enrolar o disco no rolo da massa, e transferir com cuidado para uma tarteira levemente untada ou uma frigideira de forno. Desenrolar sobre a tarteira e com os dedos, pressionar nas laterais e base. Cortar o excesso de massa e reservar no frio.
Preparar o recheio, juntando todos os ingredientes numa taça com excepção da manteiga. Colocar o recheio sobre a base de massa e cobrir com a manteiga em pedacinhos.
Pré-aquecer o forno a 175ºC. 
Com parte da massa reservada, começar a esticar sobre uma superfície enfarinhada, em forma de disco maior que o topo da tarte, e cortar em tiras com 1-2 cm de largura. Colocar as tiras em cima da tarte, arranjando-as num formato de rede entrelaçada. Cortar o excesso de massa e unir as pontas às laterais, aplicando um pouco de pressão na massa.
Com a massa restante, pode optar por fazer uma trança longa ou apenas uma tira larga para colocar sobre a tarte, em redor dela. Optei pela tira larga e com um garfo fiz os efeitos de riscas que ajudam a unir a massa.
Pincelar a massa com um pouco de leite e salpicar com açúcar demerara.
Levar ao forno por uns 45 minutos, até o recheio borbulhar e a massa estiver cozida e dourada.
Servir ainda morna, com iogurte grego natural ou uma bola de gelado.

Bom Apetite!







35 comentários:

  1. Respostas
    1. É mesmo saborosa, a fruta no forno tem algo de mágico.

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  2. Aqui em casa não ia durar muito tempo, eu sou gulosa mas a minha irmã é maluca por mirtilos.
    Ficou linda e com um aspecto super delicioso.

    Bj
    http://nacozinhacomafilipa.blogspot.pt/

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  3. Que delícia de tarte.

    Beijinhos,
    Clarinha
    http://receitasetruquesdaclarinha.blogspot.pt/2015/07/bolo-de-melao-e-coco.html

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  4. Tem um aspecto delicioso e as fotografias estão fantásticas ;)

    Beijinhos e continuação da partilha de receitas bem docinhas :)

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  5. Que belas memórias para encher uma vida (e uma deliciosa tarte) de amor.
    Um beijinho, *sílvia

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    1. Sílvia, as memórias enchem mesmo a nossa vida :) um abraço querida.

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  6. Que belas memórias e que bela tarte de frutas. Gosto imenso quer de mirtilos quer de nectarinas ,por isso sei que ia adorar saborear uma fatia ( ou duas)
    Bjn
    Márcia

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    1. Márcia, é mesmo uma boa escolha de frutas de verão à mesa, em fatias. Beijo.

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  7. Bonitas recordações a engrandecer ainda mais a beleza das imagens! A tarte faz lembrar as tartes da avó... Adorei!
    Bj,
    Manuela

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  8. Que belas que são as tuas memórias de infância Inês! Sabe tão bem recordar esses tempos em que não haviam preocupações nem responsabilidades. As minhas memórias de infância também remetem para os meus avós, eu passava muito tempo a brincar em casa deles e adorava particularmente esta altura do ano em que existia uma figueira enorme, mesmo em frente da casa, cujos figos começavam a amadurecer e eu ansiava para que ficassem maduros. Passava horas a brincar à sombra daquela figueira e até uma casa na árvore tentei construir (não passou disso mesmo, uma tentativa).
    Sabe tão bem comermos frutinha boa, colhida directamente da árvore e o Verão tem tanta variedade para no oferecer.
    A tua tarte ficou linda e deve ser uma verdadeira delícia. Esse livro deve ter receitas deliciosas. :)
    Um beijinho.

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    1. Célio, que giro, uma casa na árvore era o que todos sonhávamos. E sim, os avós são aquele porto seguro e doce que nos alimenta as memórias de pequenos. Vivam os avós e viva o verão e a fruta da boa. Recomendo vivamente este livro. Beijo.

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  9. São especiais essas memórias, quando associadas a sabores e cheiros, tem uma intensidade que nos toca de um modo particular. Adorei essa tarte, linda, rústica e cheia de fruta deliciosa a que nunca consigo, nem tento, resistir. E esse livro, ai, ai...não sei se também lhe vou resistir.
    Beijinhos

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    1. Gori, é mesmo :) eu gosto de fruta e sobremesas rústicas, aproveitar o bom que a estação nos dá. E sim, não resistas!! beijinho.

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  10. Adoro as tuas histórias, fazem-me sempre sorrir :)
    Partilho contigo uma fatia dessa tarte, enquanto falas dessas memórias.
    Um abraço
    sara

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  11. Tão bom! Adoro a associação desses dois frutos!

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  12. As tuas memórias são muito giras! Nunca convivi com nada assim, deve ter sido muito divertido :D
    Essa tarte deve ser qualquer coisa de especial! Está linda :)

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  13. Nem sei o que dizer, absolutamente linda!! Parabéns! :)
    -
    Diogo Marques
    Blog: A culpa é das bolachas! | Facebook | Instagram
    -

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  14. Ginja minha querida,
    tarte linda, cheia de boas recordações!
    É tão bom ler os seus textos me sinto como se eu estivesse na história tbm, rsrs.
    Amo recordações de infância, família e fartura.
    Eu tbm já brinquei muito quando criança, a gente joga bola, subia nas árvores, pula corda e
    todas as noites os vizinhos se reunião para jogar conversa fora e dar muitas risadas, era tão bom, tempo que não volta mais. A evolução não deixa a vida saudável voltar.
    A sua tarte ficou linda e rica, adorei!

    Bjs, ótimo fim de semana! ♥

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    1. São tão boas estas memórias não são? guardadas para sempre.
      Um beijinho.

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  15. Uau! Maravilhosa! (e adoro o tom escuro das fotos, lindas!)
    Beijinho*
    Ana

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  16. Tão lindas e tão presentes as tuas memórias querida Ginja!
    Ao ler-te, parecem tão próximas de nós. E que bom que é recordar os tempos em que éramos felizes a ser crianças, com a simplicidade da vida oferecida sem nada em troca. Também guardo tantas memórias de infância com os meus avós. E que amigos que sempre fomos. São das melhores pessoas do mundo e cheiram sempre a saudade e a coisas boas, como essa tarte tão lindas, vibrante de sabores.
    E esse livro?! Preciso dele ;)
    Um beijinho querida

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    1. Patrícia, são mesmo boas estas memórias, e esta tarte também, o livro aconselho imenso, é lindo. Um beijinho.

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  17. Hummmm....Que delicia.

    Adoro tudo que leva frutos vermelhos.

    Beijinhos

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    1. Eu também, mirtilos nesta altura têm mesmo de ser aproveitados :) beijinhos

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